Antes de 1940
Foi baptizado Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches numa pequena aldeia do concelho do Carregal do Sal, no sul do distrito de Viseu. Aristides pertenceu a uma família aristocrática com terras, católica, conservadora e monárquica - (ele também católico e monárquico). Seu pai era membro do supremo tribunal.
Aristides instala-se em Lisboa em 1907 após a licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra, tal como o seu irmão gémeo. Ambos enveredaram pela carreira diplomática; Aristides ocupará deste modo diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora: Zanzibar, Brasil, Estados Unidos da América. Em 1929 é nomeado Cônsul-geral em Antuérpia, cargo que ocupa até 1938. O seu empenho na promoção da imagem de Portugal não passa despercebido. É condecorado por duas vezes por Leopoldo III, rei da Bélgica, tendo-o feito oficial da Ordem de Leopoldo e comendador da Ordem da Coroa, a mais alta condecoração belga. Durante o periodo em que viveu na Bélgica, conviveu com personalidades ilustres, como o escritor Maurice Maeterlinck, Prémio Nobel da Literatura e o ciêntista Albert Einstein, Prémio Nobel da Fisica. Depois de quase dez anos de serviço na Bélgica, Salazar, presidente do Conselho de Ministros e ministro dos negócios estrangeiros, nomeia Sousa Mendes cônsul em Bordéus, França.
Em 1940, com 55 anos, ele aproxima-se do fim da sua carreira e é pai de catorze filhos, muitos deles fruto de relações extra-conjugais. Politicamente nunca se fez notar.
[editar] A Segunda Guerra Mundial
Aristides de Sousa Mendes permanece ainda cônsul de Bordéus quando tem início a Segunda Guerra Mundial, e as tropas de Adolf Hitler avançam rapidamente sobre a França. Salazar manteve a neutralidade de Portugal.
Pela Circular 14, Salazar ordena aos cônsules portugueses espalhados pelo mundo que recusem conferir vistos às seguintes categorias de pessoas: "estrangeiros de nacionalidade indefinida, contestada ou em litígio; os apátridas; os judeus, quer tenham sido expulsos do seu país de origem ou do país de onde são cidadãos".
Entretanto, em 1940, o governo francês refugiou-se temporariamente na cidade, fugindo de Paris antes da chegada das tropas alemãs. Dezenas de milhar de refugiados que fogem do avanço Nazi dirigiram-se a Bordéus. Muitos deles afluem ao consulado português desejando obter um visto de entrada para Portugal ou para os Estados Unidos, onde Sousa Mendes, o cônsul, caso seguisse as instruções do seu governo distribuiria vistos com parcimónia.
Já no final de 1939, Sousa Mendes tinha desobedecido às instruções do seu governo e emitido alguns vistos. Entre as pessoas que ele tinha então decidido ajudar encontra-se o Rabino de Antuérpia Jacob Kruger, que lhe faz compreender que há que salvar os refugiados judeus.
A 16 de Junho de 1940, Aristides decide entregar um visto a todos os refugiados que o pedirem: "A partir de agora, darei vistos a toda a gente, já não há nacionalidades, raça ou religião". Com a ajuda dos seus filhos e sobrinhos e do rabino Kruger, ele carimba passaportes, assina vistos, usando todas as folhas de papel disponíveis.
Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá dito: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
Uma vez que Salazar tomara medidas contra o cônsul, Aristides continuou a sua actividade de 20 a 23 de Junho em Baiona (França), no escritório de um vice-cônsul estupefacto, e mesmo na presença de dois outros funcionários de Salazar. A 22 de Junho de 1940, a França pediu um armistício à Alemanha Nazi. Mesmo a caminho de Hendaye, Aristides continua a emitir vistos para os refugiados que cruzam com ele a caminho da fronteira, uma vez que a 23 de Junho, Salazar demitira-o de suas funções de cônsul.
Apesar de terem sido enviados funcionários para trazer Aristides, este lidera com a sua viatura uma coluna de veículos de refugiados e guia-os em direcção à fronteira, onde do lado espanhol não existe qualquer telefone. Por isso mesmo, os guardas fronteiriços não tinham sido ainda avisados da decisão de Madrid de fechar as fronteiras com a França. Sousa Mendes impressiona os guardas aduaneiros, que acabariam por deixar passar todos os refugiados, que com os seus vistos puderam continuar viagem até Portugal.
[editar] O seu castigo no Portugal de Salazar
A 8 de Julho de 1940, Aristides encontra-se regressado a Portugal. Será punido pelo governo de Salazar: ele priva Sousa Mendes, pai de uma família numerosa, do seu emprego diplomático por um ano, diminui em metade o seu salário, antes de o enviar para a reforma. Para além disso, Sousa Mendes perde o direito de exercer a profissão de advogado. A sua licença de condução, emitida no estrangeiro, é-lhe retirada.
O cônsul demitido e sua família sobrevivem graças à solidariedade da comunidade judaica de Lisboa, que facilitou a alguns dos seus filhos os estudos nos Estados Unidos. Dois dos seus filhos participaram no Desembarque da Normandia.
Ele frequentou, juntamente com os seus familiares a cantina da assistência judaica internacional, onde causou impressão pelas suas ricas vestimentas e sua presença. Certo dia, teve de confirmar: "Nós também, nós somos refugiados".
Em 1945, Salazar felicitou-se por Portugal ter ajudado os refugiados, recusando-se no entanto a reintegrar Sousa Mendes no corpo diplomático.
A sua miséria será ainda maior: venda dos bens, morte de sua esposa em 1948, emigração dos seus filhos, com uma excepção.
Aristides de Sousa Mendes faleceu muito pobre a 3 de Abril de 1954 no hospital dos franciscanos em Lisboa. Não possuindo um fato próprio, foi enterrado numa túnica de franciscanos.
[editar] As pessoas salvas por Aristides
Cerca de trinta mil vistos foram emitidos pelo cônsul Sousa Mendes, dos quais dez mil a refugiados de confissão judaica.
Entre aqueles que obtiveram um visto do cônsul português contam-se:
Políticos:
* Otto de Habsburgo, filho de Carlos, o último imperador da Áustria-Hungria; o príncipe Otto era detestado por Adolf Hitler. Ele escapou com a sua família desde o exílio belga e dirigiu-se aos Estados Unidos onde participou numa campanha para alertar a opinião pública.
* Vários ministros do governo belga no exílio
Artistas:
* Norbert Gingold, pianista.
* Charles Oulmont, escritor francês e professor na Universidade de Sorbonne.
[editar] Reconhecimento
Em 1966, o Memorial de Yad Vashem (Memorial do Holocausto situado em Jerusalém) em Israel, presta-lhe homenagem atribuindo-lhe o título de "Justo entre as nações". Já em 1961, haviam sido plantadas vinte árvores em sua memória nos terrenos do Museu Yad Vashem.
Em 1987, dezassete anos após a morte de Salazar, a República Portuguesa inicia o processo de reabilitação de Aristides de Sousa Mendes, condecorando-o com a Ordem da Liberdade e a sua família recebe as desculpas públicas.
Em 1994, o presidente português Mário Soares desvela um busto em homenagem a Aristides de Sousa Mendes, bem como uma placa comemorativa na Rua 14 quai Louis-XVIII, o endereço do consulado de Portugal em Bordéus em 1940.
Em 1995, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP) cria um prémio anual com o seu nome.
Em 1996, o grupo de escuteiros de Esgueira (Aveiro) homenageou-o criando o CLÃ 25 ASM (Aristides de Sousa Mendes)
Em 1998, a República Portuguesa, na prossecução do processo de reabilitação oficial da memória de Aristides de Sousa Mendes, condecora-o com a Cruz de Mérito a título póstumo pelas suas acções em Bordéus.
Em 2005 na Grande Sala da Unesco em Paris o barítono Jorge Chaminé organiza uma Homenagem a Aristides de Sousa Mendes realizando dois Concertos para a Paz e integrados nas comemorações dos 60 anos da Unesco.
Em 2006 foi realizado uma acção de sensibilização "Reconstruir a Casa do Cônsul Aristides de Sousa Mendes", na sua antiga casa em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal e na Quinta de Crestelo, Seia - São Romão.
Em 2007, foi votado como um dos dez maiores portugueses, através do programa Os Grandes Portugueses. No seguimento das votações para o programa Grandes Portugueses, ainda em 2007, Aristides de Sousa Mendes foi o terceiro mais votado, onde o primeiro e o segundo lugar foram atribuídos a Salazar e a Álvaro Cunhal respectivamente.
Em 2007 o barítono Jorge Chaminé realiza dois concertos homenagem a Aristides de Sousa Mendes em Baiona e Bordéus.
Aristides de Sousa Mendes não foi o único funcionário a quem o seu país não perdoou a desobediência apesar dos seus actos de justiça e humanidade na Segunda Guerra Mundial. Entre outros casos conhecidos de figuras que se destacaram pela coragem e humanismo incluem-se o cônsul japonês em Kaunas (Lituânia) Chiune Sugihara e Paul Grüninger, chefe da polícia do cantão suíço de São Galo.
Origem: Wikipédia
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4 comentários:
Boa tarde
Depois de ter falado consigo ao telefone na semana passada fiquei curiosa para conhecer os seus blogs, nomeadamente este spbre ASM.
Li o seu post (não com toda a atenção necessária) mas ao fazê-lo deparei com uma enorme imprecisão que imagino tenho retirado da Wikipédia (que infelizmente não é uma fonte 100% fidedigna).
Aristides de Sousa Mendes teve 14 filhos todos eles de Angelina de Sousa Mendes sua mulher, por isso estes 14 filhos são filhos legítimos.
Depois da morte de Angelina ASM casou-se de novo com uma francesa de quem teve uma filha.
Penso que seria importante rectificar este erro pois como imagino tratou-se de um lapso.
Cumprimentos
Cristina Garin
Agradeço o seu comentário. Não sou especialista em Aristides Sousa Mendes e, de facto, o texto é tirado da wikipédia, que considero uma Enciclopédia consultável, embora, como todas as obras humanas, tenha defeitos.
Sempre ouvi dizer que alguns filhos de Aristides de Sousa Mendes não eram legítimos. Mas vou consultar quem saiba ou, talvez, quem sabe aqui intervenha. De qualquer modo, corrigirei logo que tenha a certeza certa.
Olá de novo
Agradeço a sua resposta mas estranho que ao fim de tanto tempo ainda não tenha conseguido confirmar o que referi no meu comentário anterior e emendar este seu post.
Fontes sobre ASM existem às cnetenas ou mesmo milhares na Net e existe claro está a Fundação ASM que melhor do que ninguém o poderá esclarecer.
Cumprimentos
Kiki
Ola
Compreenderá certamente depois do que vou escrever. De facto, organizei, sozinho, contra ventos e marés e alguns pequenos apoios (junta de Freguesia de Cabanas de Viriato, Sociedade Filarmonica, alguns amigos, etc)um colóquio de 3 dias dias a falar de sousa mendes. Deve comprender que, tendo isto sido feito a partir do inicio de Outubro de 2008, não tenha tido tempo para estes pormeores, por muito importantes que sejam. Mas lá chegarei...
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